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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

À mão livre


Mágicos, mímicos, dentistas, ourives, pintores, jogadores de basquete, escritores, surdos...o que têm em comum? A necessidade de usar as mãos. E de que elas sejam hábeis.

Esses tempos de crescente automação ainda vão demorar a tornar as mãos uma parte obsoleta do corpo. Até porque mão não existe pra funções utilitárias. Ainda prefiro as minhas fazendo um afago, uma carícia, parabenizando alguém, que pilotando um controle remoto de um televisor ou um mouse.

Mãos são versáteis e democráticas. A proletária cimenta um tijolo, a nobre assina a Lei Áurea, a de um médium psicografa, a do músico nordestino toca rabeca e a da criança teca a bola de gude que se confunde com o brilho dos seus olhos focados no seu prazer.

Até há poucos anos eu escrevia meus poemas “à mão” e tenho pequenos cadernos de capa dura repletos de poemas, manuscritos com a ajuda da minha inseparável caneta Lamy de carga inacabável (será que caneta de poeta se embriaga de poesia, vicia e não quer mais parar de escrever?). E mesmo hoje usando teclado, ainda me permito às vezes o antigo prazer da caneta deslizando no papel. Mas ainda são as velhas e boas mãos que digitam. Ainda não escrevemos no computador com um simples comando mental.

Queria dizer isso gesticulando, mas aqui só posso escrever e é por escrito que vou poetar sobre as mãos...


À mão livre

Mão
Pra que serve?
Mão que serve
que alimenta
contorno
cumprimenta
Mão que acena
Mão que apenas
um toque
leve como pena
de beija-flor
beijando a flor pequena

Mão que esculpe
que modela
Mão que investe
Mão que veste
em si, a luva
Que desnuda
Que desvenda
toda a alma
Mão que acalma
que estimula
com o dorso
com a palma
Mão que anula
todo medo
Mão tem dedo
Digitais
Tem afeto
Mão traz paz

Mão que ajuda
sendo dura
sendo mole
Mão que escolhe
Mão que cura
Que garante
Passa adiante
o anel
da brincadeira
Mão inteira

Mão que conta
Que aponta
o caminho
Faz carinho
Mão que livra
Mão que lavra
Mão que indica
que a chegada
é um ponto
de partida
Mão que, muda
vai narrando
os mistérios
dessa vida


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