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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Crônica de uma nasalidade crônica

O poeta pede licença aos queridos leitores do blablablog pra postar uma crônica experimental com a forma. Grato pela indulgência de todos!


A Carlos Menem e Richard Nixon (in memorian)


Se a boca, além de falar e cantar, é também para comer e abrir para beijar e a língua lamber e sentir os sabores, as funções do nariz não são de se menos prezar.

Então pensei em render homenagens às palavras com fonemas nasais.

Temo que tal sonoridade predominante redunde numa expressão um tanto constipada, mas como não enfatizar as nobres funções nasais sem incluir os sons anasalados mesmo que nos remetam a uma ladainha meio fanha?

Nariz, que alguns chamam de ventas, é pra sentir os aromas, inclusive os instintivos e imperceptíveis feromônios que geram atração nas fêmeas e nos machos, tanto mutuamente quanto em determinadas circunstâncias, também entre si.
Mas os narizes, em alguns rincões do planeta, bem ao Norte, servem também para manifestações de carinho, quando friccionados um no outro, como naquela nação esquimó cujo nome não consigo me lembrar neste instante. Tenho para mim que a Groenlândia não é. Bem, penso que não vem ao caso a localização. A questão é que o nariz tem múltiplas e importantes funções.

Mais um exemplo da importância deste nobre órgão: ele nos enseja a ingestão e nutrição do oxigênio presente na atmosfera, quando da inspiração, ao mesmo tempo em que impede parcialmente a entrada de alguns elementos nocivos ao bom funcionamento dos pulmões e do sangue e do organismo inteiro, em última instância. Eu tinha completa razão, como podem notar.

Vendo por outro ângulo, esteticamente falando, os narizes, proeminentes que são e tão diferentes entre si, dotam os semblantes humanos de muita singularidade, sejam aduncos, aquilinos, monumentais, ínfimos, pontiagudos, arredondados, com as narinas arreganhadas, vincados pela ação da passagem dos anos, enfim, além de, social e antropologicamente falando, se constituírem em genuínos sensores de proteção, para quando, simbolicamente falando, algo não cheira bem no ambiente, porque o nariz sempre chega na frente do resto da gente (com exceção de algumas panças avantajadas que o superam em matéria de antecipação, mas deixam a desejar com relação à função de proteção em emergências e constrangimentos inesperados).

Mas me lembrei de um item fundamental. Não fossem os tímpanos, responsáveis pela percepção dos sons, nada aqui neste pequeno ensaio faria sentido, conquanto não teríamos audição nem para os sons nasais nem para som nenhum, num arremedo de mundo silencioso, como se nele só existissem netunos e cardumes submersos.

Embora isto pretenda ser uma crônica, a homenageada nasalidade vernacular e seu órgão mór, não podem ser confundidos com uma doença crônica e portanto, convenientemente auto-detonar-se-á em alguns segundos mais.
E antes que aconteça, só posso me comprometer com uma continuação que examine os outros sentidos, mas prometendo (ou ameaçando) só usar palavras não nasais pra falar, por exemplo, do tato, que aliás é palavra oral não nasal.

Será que é possível? Oba! Olha aí uma frase inteira não nasal...

Será que faz sentido?

Vou tentar ter tato. Aguardem contato (Êta, nasalidade recorrente!). Recorrente? É nasal também! Quem aguenta? Desisto! Esta é oral! Viva!

Será que o outro texto já começou?



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