Importante

Todos os textos do blog, em prosa e verso, a não ser quando creditado o autor, são de minha autoria e para serem usados de alguma forma, necessitam de prévia autorização.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Hable con ella (pero también escuche)


Nessa vida imediata e midiática pouco se medita. 

Todos querem ser ouvidos, mas nem todos estão dispostos a escutar.

No bar ruidoso nos socializamos.

Bach, (aquele idoso?) nos faz(ia) ouvi-lo em silêncio.

Raros são os silêncios de ouro. Muito mais os de chumbo, cor e peso do descaso, da impenetrável couraça do si mesmo.

Dois aos gritos superpostos como linhas telefônicas cruzadas.

Dois silêncios não compartilhados.

Cada monólogo é espada sem fio que esgrima o monólogo alheio.

Como pano de fundo a TV exibe um videoclipe com imagens fragmentadas que ninguém vê.

Respiração curta. Ejaculação precoce. Mergulho no raso. Msgs. abrev. . Não se tem mais tempo para ser. 



2 comentários:

  1. Se prepara: tu vai receber o maior comentário já registrado na história do blogspot! Haha!
    Adorei a tua reflexão! Por isso, aí vai minha contribuição:


    CURSO DE ESCUTATÓRIA - Rubem Alves

    Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil….
    Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas… Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
    Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
    Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
    Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…
    Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios….
    Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas.). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
    Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”.
    Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”.
    Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
    Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

    ResponderExcluir
  2. E eu adorei a santa intervenção tua dessa extensa, intensa e bela citação. Um deleite. Te agradeço, Germana!

    ResponderExcluir