Num poema erótico, de amor, é mais comum a narrativa na
primeira pessoa, pelo óbvio fato de ser temática que remete quase de forma
inevitável ao eu. Os textos que fogem a este padrão são quase exceções. O alvo
desse amor e paixão pode ser foco exclusivo do texto, como num retrato, mas a
exclusão do narrador, ou seja, sua ausência “da cena”, dota o poema de ares de
idolatria, voyeurismo, mais que de amor, de parceria e troca.
O meio termo é um caminho, onde o objeto do
sentimento-desejo está no foco, no cerne do texto, sem a exclusão do narrador e
então o outro e o eu são contemplados (no duplo sentido da palavra) e a
primeira e a terceira pessoa do singular dão lugar à primeira pessoa do plural.
Dessa dinâmica brota o calor e empatia do leitor com o poema.
O eu do autor está presente, mas como fator de uma soma e
não como uma unidade indivisível e “imultiplicável”.
Pas-de-deux
entrelaçam-se e ficam muito juntas
O fluido corporal
que convida e unta
E é por ser prazer da alma liquefeito
E quanto mais
profundo tanto
mais leve
Ficas zonza porque
a alma quer
decolar
e ousar tentar fruir o inatingível