Importante

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domingo, 26 de agosto de 2012

Improvisação e elaboração


No recente sarau da Confraria da poesia informal, da qual sou integrante, a parte final, dedicada à música, teve a participação de rappers de Petrópolis, dentre eles, Marcelo Moraes e Lucas Sixel, excelentes, por sinal.

Ouvindo-os lá, com bastante interesse, dizendo seus versos rimados de improviso, de conteúdo inconformista e motivação niilista, me vieram à mente os tradicionais repentistas nordestinos. Em ambos os casos é impressionante a rapidez do raciocínio produzindo instantaneidades poéticas, em contraste com a maneira habitual da grande maioria de nós, poetas, que criamos de forma mais pensada, mais lenta e sem, de certa forma, essa mesma espontaneidade exuberante dos rappers e repentistas.


RAP...REPente...me chama atenção a semelhança sonora entre essas duas palavras que designam duas formas singulares de expressão poética.

Enquanto o rap expressa uma ácida crítica social, inconformismo, o repente já tem um viés mais irreverente e leve, também crítico com os costumes, mas no qual predomina o humor. Outro traço em comum em ambos é a linguagem despojada e direta que cria ressonância tão imediata em audiências das mais diversificadas, quão imediata é a feitura dos versos. Repente e rap são instantâneos e “em tempo real”, a percussão que costuma acompanhá-las acentua o conceito de “música falada”. 

A poesia, digamos, mais tradicional, essa que é primeiro pensada e escrita e só depois de pronta é lida, ou declamada, ou como se diz agora, dita, tem tentado “ir onde o povo está”, se tornar mais palpitante e sair do papel e das telas virtuais para os saraus ao vivo, que vão aumentando em número e se popularizando.

Não sou rapper nem repentista, mas sou um poeta que admira e se fascina com essas manifestações poéticas e, ao meu modo, com um soneto “pensado”, homenageio os repentistas e ao mesmo tempo prometo vindoura e semelhante homenagem ao rap e seus bravos rappers.



Adaga


Talvez descreva as cores da bandeira
De um bom adorno tenha a serventia
Ou amenize horrores da trincheira
Será que tem função a poesia?

Cativo é o seu lugar na prateleira
da mais sofisticada livraria
O velho e contumaz chá de cadeira
na fila pra fatal taxidermia 

Roteiro da anacrônica utopia
Do salto que o temor retém na beira
Que mais a musa, o herói, que alegorias?

É sábio o repentista, que na feira
resgata o Bobo, a adaga da poesia
Cortante, quanto mais é brincadeira 


sábado, 18 de agosto de 2012

amor amore amour liebe love

Sou do clã dos poetas que teimam em recorrer à temática do amor, porque acredito que a poesia nos salva e o amor dá mais sentido ao viver e a tudo que implica nesse verbo regular transitivo direto da segunda conjugação.




sábado, 4 de agosto de 2012

O primeiro dos últimos?



A forte carga simbólica dos Jogos Olímpicos no imaginário coletivo é de chamar atenção. Desde a Antiguidade o Homem põe à prova o ideal da força, velocidade e resistência. E os tempos modernos agregaram a isso, visibilidade mundial, pressões comerciais, tecnologia. A celebração maior da excelência.



E excelência implica em autoexigência, expectativas, estresse, frustração. O ouro destinado ao herói, ao melhor entre os melhores é só para um. Honra individual e patriótica em jogo. Países que têm interesse em fazer do bom desempenho esportivo peça de propaganda e autoafirmação política. Na China, crianças com talento potencial são obrigadas pelo governo, mesmo contra a vontade de suas famílias, a ingressar em programas de formação de pequenos atletas.


O esporte é plasticamente algo belo e também emociona, mobiliza, mostra histórias de superação, sacrifícios, mas nem tudo no esporte é glamour. As pressões internas e externas pela infalibilidade que a excelência impõe não raro levam a cenas de inconformismo e desespero de quem quase chegou no cume do Olimpo e não se perdoa pela sua humanidade, que não lhe basta para reinvidicar lugar entre semideuses.


E as lágrimas que rolam molham o rosto e a medalha não acalentada e que pra ele parece nada valer.