Meu auto desafio nasceu se propondo apenas a produzir um
soneto de palavras monossílabas. Depois de ter escrito dois e ainda com a
sensação prazerosa de ter conseguido isso bem presente, é claro que quis partir
para um terceiro, mesmo consciente da dificuldade em função da escassez de
palavras monossílabas no nosso idioma, mais ainda pelo risco de me repetir
muito nessa terceira tentativa.
Mas, paradoxalmente, este terceiro foi o que saiu mais
extenso, versos bem mais longos. E em contraste com os dois anteriores, que
foram mais filosóficos, este evoca a Natureza e talvez por isso seja menos
racional e mais emotivo.
E assim se completa a trilogia “sonetomonossilábica” não
planejada. Escrito este terceiro soneto, dei por encerrado o jogo. Mas algum
tempo depois, acabei escrevendo um poema também monossilábico. Viciei? Bem, vício bom acho que vale. E desafios nos lapidam.
No fim do mar
Ver o sol se pôr no fim do mar
Luz que flui na cor da flor mais sã
diz por si que a dor não é tão vã
Já nos traz um triz a mais de ar
Trai sem dó a tal da lei do cão
Dói pois rói o ser no grau mais vil
Só que tem na dor do que já riu
mais que o som do sim por trás do não
Ver o show do sol que sai do céu
é tal qual não ter mais voz num véu
mas de um som que vem de lá dos rins
Cai o sol de mais de cem mil graus
Um que traz a luz pra nós, pras naus
que se vão do cais que há em mim