Importante

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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Reality show



Palavras, sentimentos, sensações, fatos, imagens, desencadeiam poemas. Estou vivenciando agora um sentimento repleto de palavras que parecem um video de manifestantes numa passeata, do qual suprimiram (quiçá censuraram) o som. Sentimento de incomunicabilidade que trespassa a alma do poeta (e aposto que de muitos dos seus pares). De falar, gritar até e ser mal ouvido pela indiferença de ouvidos moucos e individualistas.


A solitária incomunicabilidade do poeta…eis o tema.


Depois do Big Bang
do meu universo
junto meus cacos
que não dão três versos
(Narrando as agruras com laivos de humor, nada mau pro começo)

Escritos a sanguenão, aqui não cabe verso tão dramático, melhor…:
Só um yang
e um yin
Converso comigo
Me faço amigo de mim…(uma rima interna aqui produz uma boa sonoridade)
E no fim
desse autocarinho
por falar sozinho
me vestem camisa-de-força(a incomunicabilidade, os ouvidos moucos da indiferença entram no texto)
E assim mal vestido
sigo pro olvido
de não ser ouvido…(o tema se desenvolve…a paronímia do olvido com ouvido tira um pouco o tom solene da queixa)
nesse fim de baile
doído e duro (ou) sem futuro
escrever no escuro
poemas em braile…(no desfecho, além de outra paronímia em baile/braile, a conclusão metafórica apontando pra inexorabilidade da solidão intrínseca de um artista ao criar.)

Ah! Falta o título. Camisa-de-força? Não. Bem, acho que um se impõe: Na solitária.

Então, ficou assim:



Na solitária

Depois do Big Bang
do meu universo
junto meus cacos
que não dão três versos
Só um yang
e um yin
Converso comigo
Me faço amigo de mim
E no fim
desse autocarinho
por falar sozinho
me vestem camisa-de-força
E assim mal vestido
sigo pro olvido
de não ser ouvido
nesse fim de baile
sem futuro
escrever no escuro
poemas em braile


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Uma palavra vale por mil imagens

O famoso provérbio chinês diz que uma imagem vale por mil palavras.


Sim, é inegável a força que uma imagem pode carregar. Por exemplo, fotógrafos como Henri Cartier-Bresson e nosso Sebastião Salgado que o digam. Mas esses nossos tempos velozes e vorazes da exacerbação e supervalorização da imagem, transformaram o provérbio chinês num clichê. Os videoclipes e comerciais de TV despejam uma sucessão vertiginosa de imagens em que a palavra, a letra da música, é menos importante que a informação visual, o primado da imagem  com seus textos só subjacentes.

Mas o que desejo dizer é o oposto. A palavra tem enorme poder. O de inverter, inclusive, o provérbio chinês.  Uma palavra bem sacada, bem colocada, pode mudar o sentido implícito que uma imagem sem texto agregado a ela carrega. A palavra tem esse dom da transformação quando associada a uma imagem.

A imagem que aparece no alto da página passa claramente uma ideia de proteção, acolhimento, segurança, serenidade. Isso é indiscutível. Mas vejam como, associada a um texto, o contexto muda o sentido e transforma a imagem em algo ameaçador, as mãos protetoras agora oprimem, ameaçam, roubam, arrancam  essa pessoa de outro.


A palavra muito pode. Nesse caso, subverte o antes estabelecido, transgride, desconstroi. Assim como em outras circunstâncias restaura, agrega, clareia. Não a subestimemos, pois. Acreditemos em que uma palavra pode valer por mil imagens, que pode carregar em si imagens que instigam, se plantam e germinam no vasto universo que é a nossa imaginação.