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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Fora dos trilhos do trempo


O tempo, esse tal que nos esmaga, é um trem lotado que para nas estações. Os passageiros quase nunca desembarcam, não se rebelam contra esse veículo que os leva sabe lá pra onde e sem que eles tenham solicitado esse transportar.

O atrevido que ousa desembarcar logo descobre que só assim vai poder ver a vida mais de perto, não só ver, como tocar, cheirar, sentir, enfim. Sentidos e sentimentos percorrendo todos os sentidos e enfim encontrando os muitos sentidos que a vida tem. Poder andar com as próprias pernas e parar quando quiser.

De dentro do trem a vida passa como videoclipe veloz e fragmentado, como vida lá fora e do outro. Dentro do trem a vida é igual a sempre, previsível e claustrofóbica e com o ar viciado sem frescor, sem se renovar. Nós, passageiros-prisioneiros enraizamos a ideia de que viver, inexoravelmente é viajar nesse trem, ser tangido por ele até a parada final no fim da linha da vida que a nossa mão indica e que não tem formato de trilhos e dormentes.

E nosso ousado atrevido que desembarcou pra ver e viver a vida lá fora (e em última instância, nessa interação, dentro dele também), ao descer do trem, abdicou da vida que aparentemente só se sustenta a bordo dessa máquina cruel?  

Não. Ele apenas escolheu seu tempo interno, desafiou a ditadura opressiva de Crono, pendurou sua rede entre dois pilares do Tempo, como um Dorival Caymmi cantando a aldirblanquiana Resposta ao tempo e se permitiu viver sem o tiquetaque ruidoso do relógio a lhe vigiar.

E depois, numa estação qualquer, embarcou num outro trem. Porque não existe um trem só e um só destino e sentido.



Cronoilógico


No mundo das coisas
(o corpo da gente
também é uma delas)
as coisas se medem
pelo quanto distam
e pelo tamanho

Pra se aproximarem
Serem percorridas
isso é trabalhoso
Requer movimento
Então a medida
é espaço, distância

Mas o homem criou
um certo artifício
pra medir as coisas
seus deslocamentos
Medir progressões
E o chamou de Tempo
E fê-lo Senhor
da vida e das coisas
que mexe os pauzinhos
das marionetes
que todos nós somos

O cosmo se move
sem esses cordéis
Mas qual a medida
pra se compreender
vasta imensidão
e lento viajar?
Os tais anos-luz...

A vida é um caminho
No entanto teimamos
em só percebê-la
ao crivo de Crono
Um deus invejoso
que nos ludibria
e nos escraviza
aos nossos relógios
prazos e atrasos
Vida é atemporal
Tempo? Que se dane