Importante

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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ões


Se paixão não fosse vulcânica, não teria esse som de aumentativo. Seria só paixa, ou até paixinha. O mesmo se aplica a tesão, coração, vulcão.

Imagine lava sendo cuspida nas alturas e no noticiário: “O vulco Etna entrou hoje em erupção...” Que impacto teria? “Não tenho só teso por você, meu coraço dispara quando te vê”...O jornalismo, as declarações de amor e a poesia se ressentiriam disso.

Como coisa superlativa e aumentativa que é, a paixão nos move, abala, pega desprevenidos. Se não existisse a paixão, certamente nosso mundo estaria mais atrasado, seja na Ciência, na Arte, no comportamento e nos costumes. Da Vinci,  Bach, Martin Luther King, Einstein , Platão e Nietzshe teriam sido só pessoas comuns e não teriam ajudado a mover a humanidade adiante.

Se temos paixão por selos, um time de futebol ou pela Natureza, a interação entre o apaixonado e seu objeto de desejo só se dá na fantasia do desejante, portanto se eterniza e com raras ou inexistentes rusgas. Mas quando a coisa é, uni ou bilateral, entre seres humanos, aí já complica bastante.

Focando só o lado doce da questão, esse que costuma plantar sorrisos idiotas em nossos rostos, o belo, oculto de nossos sentidos embotados por uma razão excessiva e sabotadora ressurge e é quando o vulcão tesão coração se assomam e nos tomam, incendeiam, incandescem, entumescem, obedecem, readolescem.


Por querer


Sim, me chame
pra cometer uns vexames
Entrar pela chaminé
Cair cheio de fuligem
Embarcar na tua vertigem
e tirar o chão do pé

Sim, me clame
pra que eu, por mais distante
te ouça e chegue ofegante
pleno de desejo e ânsia
a nado, a pé, de ambulância
agigantado de amor

Rei e rainha
Vamos tocar campainhas
Fugir, rindo de nervoso
Vamos protelar o gozo
no nosso lúdico Tantra
Nossos nomes feito mantras

Se esparrame
na rede do meu abraço
pra juntar cada pedaço
Muitos que sou por você
depois de dançar na chuva
e antes de adormecer

Sim, me ame
que eu te faço um origami
da cor da minha paixão
Me viro em uma canção
que ressoe em teus ouvidos
depois que eu tiver partido



sexta-feira, 3 de abril de 2015

Canções: maiores que a soma das partes




Desde a chamada tenra idade eu já me ligava nas palavras e instintivamente, ainda sem elaborar, me fascinava com suas múltiplas possibilidades semânticas e sonoras. Tanto que já arriscava meus primeiros trocadilhos, o que causava certa surpresa nos adultos mais habituados ao menino introspectivo.

O gosto foi aos poucos evoluindo para obsessão e o já adolescente era uma traça ainda em crescimento devorando desde bulas de remédio a romances de Emile Zola, passando por palavras cruzadas, gibis, jornais e dicionários.

Nesse cenário, a ponte para a escrita foi construída de forma lenta e sutil e à medida que tímidos e despretensiosos arremedos de poemas iam tomando forma, foram retroalimentando uma necessidade de me expressar pela palavra.

O gosto, igual em tamanho e intensidade, pela música, contribuiu para guindar o flerte com a escrita aos patamares mais altos do caso sério. Porque minha musicalidade natural não restringia meu foco a mensagem e conteúdo. Eu desejava também a forma, o significante no objeto sonoro palavra. E fui deixando de me contentar com apenas ler livros e ouvir discos. Queria também fazer, criar.

E foram nascendo as canções. Tenho um especial apreço por canções. Elas são a fusão de dois dos pilares da arte: música e literatura. 

A canção me fascina. Escrevo isso ao som de Mônica Salmaso interpretando canções de Guinga e Paulo César Pinheiro. Beleza beirando o sublime. A canção não é simplesmente uma letra musicada ou uma música letrada. Não é mera superposição de linguagens. Uma canção é a fusão de duas entidades que resulta numa terceira entidade. Daí sua singularidade enquanto arte.

Uma bela canção é como um amor correspondido, que é maior que a soma das partes. Letra e música se valorizam mutuamente. Notas musicais, fonemas, ritmos e rítmicas, melodias ascendentes que ressaltam exclamações e descendentes que evidenciam melancolias, acordes maiores, menores, perfeitos, dissonantes, tessituras semânticas, harmonia, os sons das palavras fundindo-se  com os sons musicais, enfim, boas e belas canções são propulsores universais da alma da gente. Não ficamos indiferentes a elas e parece que tampouco elas a nós.

Eu e meu parceiro Antonio Jardim temos mais de 40 canções feitas a partir de sonetos meus e que chamamos de Cançonetos. Na impossibilidade aqui de uma audição, transcrevo um desses sonetos que viraram canções.