Importante

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sexta-feira, 27 de março de 2015

Poentidade

A poesia é uma pessoa com múltiplas personalidades. Quem a escreve é só um tradutor da sua essência em forma de palavra e verso. Depois desse processo, poema nascido e vivente, ele vira gente, com vida própria e sai por aí buscando mentes e sensibilidades, seus pares de carne e osso feitos de sentimento e palavra, mas essa última só latente, à espera de que a poesia lhe agregue sentido vital e lírico.
É essa entidade, essa pessoa-palavraverso que quero retratar nesta prosa poética:



sábado, 21 de março de 2015

Cartas


Quase não se escreve mais cartas. Daquelas a caneta no papel. Das que levam selo no envelope.                                                                                     Um email ou mensagem de texto no celular podem até ter o mesmo teor essencial, mas uma carta é uma carta. A caixa de mensagens não virtual, aquela de madeira ou metal, com fechadura e que a gente abre não com o clique de um mouse, mas com a ponta dos dedos em busca de papéis palpáveis, guarda surpresas e expectativas. E não te inunda com spam e correntes e piadas.

Cartas são mais demoradas, já que manuscritas. E também demoram mais a chegar. Mas até essa aparente desvantagem pode se constituir numa vantagem; o suspense. E a ânsia da espera. Quando eu era bem jovem, minha namorada se mudou pra uma cidade bem distante e como não existia ainda a Internet, trocávamos longas e frequentes cartas de amor, intensas, nas quais até enviávamos pequenos objetos pessoais nossos, muito simbólicos do que queríamos expressar, inclusive presentificando nosso sentimento e presença ausente.

Me vem também a imagem romântica das mensagens em garrafas jogadas no mar. Isso me fascinava na adolescência e eu sonhava um dia me deparar com uma dessas numa praia. Soube que há pouco tempo uma foi encontrada, 40 anos depois de lançada e foi respondida!

Assim como o email é a carta virtual, navegar, hoje, não necessita de carta náutica, radar, ou pelo menos se guiar pela posição das estrelas. Basta um pc , note ou celular e um provedor de acesso. Mas como a amada das cartas estava em Brasília, eu navegava até ela a seco, sobre rodas, em estrada asfaltada.

Nada tenho contra a modernidade da cibernética e tampouco sou um saudosista que se refugia no passado. Falo apenas do humano e do que é atemporal e não se molda pelo tempo. E ilustro isso com Fernando Pessoa, um criador tão genial quanto febril de poemas e cartas. Ele escreveu um chamado Toda carta de amor é ridícula. Carta náutica foi meu poema inspirado nesse de Pessoa.


sexta-feira, 13 de março de 2015

Só 10% é mentira. O resto eu inventei. (Manoel de Barros)

"O tempo só anda de ida.

A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre.
Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
Amarrar o tempo no poste."


                              Manoel de Barros


"Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
O que eles veem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram"

                                       Leo Masliah


Mente. A mente do poeta mente o que ele crê. A gente lê e dá fé mesmo quando é fundo e não dá pé. Ele aborda o mundo e pinta e borda e não é cheque sem fundo, é moleque e profundo e pro fundo nos leva e enleva. A verdade do poeta inquieto esteta é do olhar lúcido pro suprarreal e como tal ele desmonta paradigmas e monta tufões bufões e diz e rediz feliz ou infeliz de modos sem medos que só a poesia, essa epifania, logra expressar ao espessar o real ou refiná-lo até o talo. Ao mentir suas verdades, seus alardes, ele lapida brutos diamantes, inventa fortuitos amantes e ri de si menestrel trovador, inferno e céu, ódio e amor, que a vida tem mais de um viés, muitos ares e rufares de tambor de tenso e manso amor e mesmo que a cabeça se esqueça ainda restam os pés pra caminhar e mãos do gesto presto de acarinhar e escrever.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Poerria

Pra muita gente, a poesia é o território grave e solene da seriedade, mesmo para leitores habituais de poesia. É meio como se um texto poético só tivesse legitimidade e nobreza no sério, no dramático, no compenetrado, no profundo e circunspecto, sisudo.


Claro que não tenho nada contra nada disso; eu mesmo recorro a esses vieses em meus textos, mas sou avesso a receitas, tanto na poesia quanto na vida, com exceção da culinária, portanto não me furto a canalizar quando em vez, ao poetar, minha veia humorística.

Não sou dos que pensam que o humor deve se exilar nas crônicas, nos sketches de comediantes no teatro e na tv, nos repentes nordestinos (que considero tão poesia quanto a dos poetas consagrados), ou nos textos publicitários. O território da poesia é vasto o bastante para abrigar várias nuances de significante e significado, variados enfoques e temáticas. E a do humor não faz a poesia ser menor. É perfeitamente factível a boa poesia com laivos cômicos, basta ter a medida, ter o senso dessa medida.

Na verdade, o humor na poesia é exercitado também pelos grandes e consagrados autores, só não frequentemente, não é raro constatar isso num Shakespeare, num Drummond, isso sem falar nos mais contemporâneos, como Arnaldo Antunes e Leminski.


A vida é séria e engraçada e a poesia, como reflexo e tradução dela, pode e deve atravessar todos os matizes de tristeza, choro, angústia, ironia, lirismo, alegria e riso desse largo arco-íris que indica o pote de ouro poético em seu final.