Importante

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sábado, 29 de abril de 2017

Strip crise



Strip crise


Se o ócio criativo vira um sócio vingativo os demônios fazem motim os hormônios acham ruim o Arlequim vira Pierrô que horror ao som de um calipso chega o Apocalipse ipsis literis a tela em branco encalha no barranco lento feito lesma na mesma tento o fomento do texto conciso mas pro meu prejuízo  só despertaria riso tosco bilhete em falsete fora do tom jobiniano ou não então apelo feio pro termo do meio e busco o leve breve mas pra meu tédio sai um arremedo de bula de remédio tamanho médio daí parto com dor prum texto extenso sem senso de humor profundo abissal e afundo em areia movediça carniça pra urubu vai tomar café de jacu! pra ver se volta a inspiração que a piração já tá me deixando louco e mais um pouco eu desisto desinsisto entrego os pontos me retiro dou-me um tiro me aposento vou pra dentro ah já sei tive uma ideia vou parodiar Medeia mas vai que todo mundo odeia peraí melhor reiventar o Saci mas com 3 pernas não acho que não é meu dia ou então meu dia chegou ou sei lá tudo no fundo é poesia e amanhã é outro dia tosca desculpa pra crise ainda que eu relativize e eu fazendo strip tease bem na frente do leitor é muito amor que nem me cobra então tô fechado pra obras prometendo novas obras  não tirei leite da pedra a coisa não flui já tô aqui falando merda fui!

                                      

sábado, 22 de abril de 2017

Palhaçada

Sempre tive fascínio pelo circo e em particular pelos palhaços.


Palhaços povoam o imaginário de todo mundo.

Eles representam nosso lado iconoclasta, transgressor e anárquico.

O bobo da corte era uma espécie de canal tolerado que servia de válvula de escape do povo.

Os palhaços nos fazem rir. Rir de nós mesmos.

Palhaço é o menino que cresceu e continua menino, traquinas, lúdico, sem planos, sem neuroses nem medo da vida.

Charlie Chaplin foi um dos grandes palhaços da História. Não por acaso veio do circo. Encarnava, a seu modo super peculiar, a figura do “clown”, melancólica e poética. Chaplin, com seu Carlitos, encarnou esse arquétipo e enterneceu e fez rir a muitos e sua arte permanece viva com toda a sua universalidade. Chaplin foi um grande poeta sem palavras.

Como Carlitos, os palhaços sonham, se frustram, apanham, questionam, se atrevem. Mas no fundo não levam nada muito a sério. Sua irreverência nos assusta, mas nos redime. Estão nos picadeiros a nos dizer de forma explícita, mas também subjacente, que apesar de tudo a vida e a gente são pra ser felizes.


O espetáculo acaba e levamos conosco o riso e a leveza que acalenta a alma.



Na lona


No maior estardalhaço
Teatral espalhafato
O mais sério dos palhaços
arma o circo e monta o ato

E cidade após cidade
O feroz sobrevivente
mente verdadeiramente
as mentiras e as verdades

Delicado, às vezes rude
Nos imita e nos ilude
nesse jogo de espelhos

Rege a banda e chuta a bunda
Na tristeza mais profunda
faz-nos rir, velhos fedelhos


sábado, 15 de abril de 2017

Areia movediça

Não tenho (e nem acho que se deveria ter) a pretensão de ditar

regras e criar ou perpetuar normas engessantes.

Mas mesmo a indulgência tem limites.

O erotismo na arte. Com frequência se constata a areia movediça em que essa associação se converte. Perigos potenciais que rondam os criadores, à espera e espreita de um instante de distração.

Erotismo é tema oportuno, necessário, mas também é traiçoeiro e requer permanente foco no que escape aos clichês, fuja do grosseiro, contorne o piegas (sim, não só nos poemas de amor!) e passe ao largo do sacralizante.

Nunca é demais lembrar que erotismo e sexo não são sinônimos.

Texto erótico pode sim, descrever situações cotidianas, (fugindo assim do permanentemente etéreo e ou sacralizante, mas não ser banalizante na forma e na narrativa..

Erotismo não precisa redundar necessariamente em ares sérios. O lúdico é bem-vindo.

Texto erótico pode sim, ter momentos chulos, mas não a ponto de converter um texto numa pichação em banheiro público.

Bom gosto, refinamento, a fronteira do rude com o delicado, são temas discutíveis e até certo ponto subjetivos. A meu ver a mistura disso tudo e não o isolamento em elementos estanques é o que costuma desaguar no melhor que a arte erótica pode nos oferecer.

imagem: Vee Speers






sábado, 8 de abril de 2017

Sem limites.com?


O artista é, antes de mais nada, um cidadão, com suas consequentes interações e implicações. E como cidadão que é, repercute e reverbera fatos, sentimentos, sonhos, perplexidades, alegrias e tristezas, sombra e luz, desesperos e alentos.

Artistas e não artistas, dicotomicamente são diferentes e semelhantes. O artista e a arte trafegam entre limites. Não fosse assim, que impacto a arte teria, ou seja, o que ela traria de contribuição para o pensar e sentir a vida e o mundo? Cabe ao artista não só exaltar as belezas, de certa forma as confirmando, mas também provocar, tirar as pessoas de sua zona de conforto, inspirá-las. Sem este mínimo de atrevimento, a arte se reduziria a mero acessório e enfeite.

Mas dar livre vazão a essas ousadias é salvo-conduto para um proselitismo maniqueísta, por exemplo? Arte e artista são livres a ponto de propagar ódio, violência, preconceito e discriminação?

 Particularmente penso que causa e efeito não devem ser confundidos. O veículo empregado não tem “culpa” e qualquer um pode se escudar por trás da arte para disseminar suas ideias e ideais de ódio e violência, assim como pode optar pelo simples discurso direto sem veleidades pseudoartísticas.

O artista mostra saúde quando não se omite, quando toma partido e não se apresenta indiferente a causas e questões particulares e globais. Mas a arte agradece quando ainda assim não faz juízos de valor. Garcia Lorca e Maiacovski são exemplos lapidares disso.

O artista é um ser social e quem vai estabelecer e mensurar limites à sua expressão, além da sua própria consciência, serão seus pares e fruidores, seja pelo aplauso e corroboração, seja pela rejeição e repúdio.

Aí se abre uma delicada discussão sobre a legitimidade (ou sua negação) da censura e a liberdade de expressão.




Noturno

Um sino sem seu badalo
balança em total silêncio
Quisera ser um cavalo
Ele não pensa, eu penso

Um vento sopra de lado
Qual caranguejo evasivo
Carregando o mapa errado
Tesouro em vulcão ativo

Rastros na areia desfeitos
Deuses do mar são suspeitos
A lua desvia o olhar

Num centauro convertido
Mando flechas num sentido
Que voltam pra me alvejar