Importante

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Arremedos




O medo, esse famigerado. Pior que segredo congelado. Pior que bruma, que não te deixa ver porranenhuma. Medo é amedrontador, dor que não dói mas rói o ser, entorta o talher, faz o travesso virar do avesso, vira bicho de sete cabeças de quartas a terças. Medo é abrupto ou em câmera lenta, é corrupto e se deixa subornar ao luar. Medo de perder o controle, o da TV e o de si e da vida. Medo é vidro em cacos com pés descalços, medo é percalço a um metro da meta. É sombra, escombro silencioso, é sonhar com o Bozo e acordar em prantos, medo do por enquanto virar passado, porão mal assombrado. Medo é um coração dilacerado pelo desencontro, de nunca estar pronto pra começar recomeçar findar receber dar. Medo é órbita solar que gira gira e não sai do lugar.



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Faces


Não importa se somos crentes, ateus, cínicos, céticos, hedonistas, anarquistas, existe pra quase todos um ponto em comum que agrega todas as vertentes: os mistérios da vida, as perguntas sem resposta, a finitude e o eterno.

No âmbito do pessoal, do individual, o conceito de alma, quase em oposição ao corpo matéria. Polêmica em torno. Haver alma ou não é quase o mesmo, pelo menos em importância, que vida após a morte.

Longe de mim querer deflagrar debate místico sobre isso, até porque meu viés preferencial é o da poesia, com toda a farta carga de subjetividade inerente. Pro poeta, alma pode ser muitas coisa, até mesmo  a alma como instância “superior” à matéria densa.


Alma como sinônimo de centelha, sopro, anima, vida. Mas como a dicotomia é quase inevitável nesse dualismo, dessa dupla instância que constitui o humano, dou minha modesta contribuição através da minha visão poética que não pretende explicar e muito menos esgotar o tema. Não cartesiano que sou, na vida e na minha poesia, visito em versos a famigerada questão. Corpo e alma são faces da mesma moeda ou esse duplo aspecto humano é só mais um dogma?


Faces

A alma não tem idade
O corpo é que sofre e falha
Apaga o fogo na palha
A alma é da eternidade

Corpo, onde tudo se passa
Matéria densa e tangível
Mas alma é num outro nível
Que sempre o corpo ultrapassa

O corpo mora no tato
Viaja pela visão
A alma é algo abstrato

Juntando toda a emoção
Com a sensação de que é fato
Tem vida em ebulição


sábado, 10 de fevereiro de 2018

Fervor



Um pequeno tributo ao frevo, uma das mais felizes e graciosas combinações de dança e música que conheço.

Fervor

O frevo ferve em Olinda
Não tem coisa mais linda
pra se inventar
O frevo é contagioso
Um gozo de pernas
Sombrinha no ar
Doença mais sã
que eu quero pegar
Delírio e afã

O dançarino que freva
se agacha e se eleva
Cossaco no fervo
O ritmo no nervo
Cometa, avatar
Sincrônica farra
ao som da fanfarra
Demônios no céu
O frevo ferve na veia
que o sol incendeia
em pleno escarcéu
O corpo ziguezagueia
Três voltas e meia
Sem corda o rapel!

O frevo é contagiante
Feliz e ofegante
As pernas em trança
na dança mais linda
Sou rei, sou criança
frevando em Olinda


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Luzes



A sabedoria budista revela que o que o homem procura fora dele, na verdade está dentro de si. Os tesouros materiais não se limitam a metais preciosos e gemas raras. O Poder é considerado de grande valor e valia. Quando a poeira assenta, o que prevalece é o vazio. Para os hindus é Maia, a ilusão.

Civilização repleta de avanços tecnológicos e científicos, que caminha paralela a desigualdades e injustiça.

A espoliação dos ameríndios da prata e ouro pelos espanhóis e portugueses, o quase extermínio dos índios americanos pelos então forasteiros, a corrida do ouro no Alaska e em Serra Pelada.

Hoje alguns conflitos bélicos são por água potável.


O brilho do ouro ofuscando a luz interior mais sutil e silenciosa, negligenciada na busca frenética pela plenitude humana.


Veio

O andarilho
Nem Pai nem Filho
"Isprito" Santo
não sabe o quanto
de chão comeu
Na luz, no breu
Passos na beira
Come poeira
Vai longe o lar
Perto, o luar
A sua meta
é a linha reta
pra circular
todo o planeta
Buscando o cheio
de denso rio
que encha o vazio
do existir